quinta-feira, 5 de junho de 2014

Pays de la Loire

O último fim-de-semana de quatro dias do ano, para os parisienses, chegou com o final do mês de maio. E nós, que nos apercebemos disso a poucos dias do dito, achámos que a ocasião merecia uma escapadinha a dois.
O único problema foi decidir o destino... É que, quando se fala em fim-de-semana prolongado cá em casa, a tendência é invariavelmente abrir o mapa da Europa e refletir sobre até onde conseguimos chegar de carro em x dias e sobre quantas cidades podemos visitar pelo caminho. Ocorreu-nos Munique, que está nos nossos planos há já algum tempo; ocorreu-nos Barcelona, onde o meu marido tem um amigo próximo; ocorreu-nos Amesterdão, onde nos espera sempre a minha querida 'expat of the Netherlands'... mas, desta vez, fechámos o mapa e decidimos ficar-nos por uma rota menos cansativa: usámos o fim-de-semana para percorrer o Pays de la Loire, eleito pela UNESCO Património da Humanidade.

Ao longo do rio Loire, que é o mais longo rio francês, atravessando todo o país, existe uma imensidão de castelos fascinantes. No decorrer dos séculos, nobres e elementos da família real francesa apaixonaram-se pela região da Loire e mandaram edificar aí construções que fazem sonhar com contos de fadas.
A Loire tornou-se, assim, uma região culturalmente riquíssima, digna da visita não apenas dos amantes de história, mas de todos aqueles que um dia ouviram histórias de príncipes e princesas.

A nossa visita começou por Sully-sur-Loire, onde explorámos o castelo senhorial da comuna. Este castelo, construído sobre água, começou a ser edificado no séc. IX pelos Senhores de Sully, embora tenha sofrido inúmeras alterações desde então. Hoje em dia, juntamente com os seus jardins, é considerado monumento histórico pelo Ministério da Cultura francês.

Seguiu-se no nosso plano o magnífico Château de Chambord, emblema do Renascimento francês.
O domínio de Chambord estende-se por 5440 hectares e é rodeado por um muro de 32 km, sendo o mais vasto de todos os castelos do Pays de la Loire. A imensidão a perder de vista dos parques do castelo é, de facto, admirável e justifica-se pelo facto de, um dia, o rei François I se ter apaixonado por Chambord e ter decidido fazer dela a sua escapatória para caça. Um pouco à moda do nosso D. João V com Mafra (ou vice-versa), François I fez de Chambord um capricho, contratando para o desenhar os melhores arquitetos (há, inclusivé, indícios de que Leonardo Da Vinci tenha desenhado a espantosa escadaria em dupla-hélice, elemento arquitetural mais marcante do castelo).
No entanto, e apesar de ser inquestionável o sucesso da construção, François I passou apenas algumas semanas no castelo, mal vivendo para ver a sua conclusão. Após a sua morte, o palácio manteve-se abandonado durante décadas, sendo apenas pontualmente habitado por elementos da família real ou da nobreza.


A nossa rota prosseguiu até Tours, cidade que escolhemos estrategicamente para nos alojarmos, podendo assim deslocarmo-nos facilmente entre os vários castelos da Loire, a Este e a Oeste desta cidade. Jantámos num pequeno restaurante típico e depois perdemo-nos em passeio pelas ruas pitorescas da cidade natal de Balzac. Apesar de ser a maior comuna da zona central francesa, Tours tem um certo jeito de pequena vila, com as suas casinhas medievais e os seus afáveis habitantes, que parecem ter encontro marcado todas as noites na zona da cidade antiga, para beber um copo, rir e conversar.

Saumur esperava-nos na manhã seguinte, sob um sol estupendo. A vista do castelo, que serviu de inspiração a vários ilustradores dos contos de fadas que todos conhecemos, transportou-nos de volta à nossa infância e colou-nos um sorriso pueril no rosto. Infelizmente, o palácio encontra-se em estado bastante degradado, o que não nos permitiu admirar justamente toda a sua beleza; mas o restauro está a decorrer, pelo que brevemente deverá ser possível visitar Saumur sem andaimes e no seu máximo esplendor.

Seguindo viagem em direção a Este, fizemos um piquenique nas margens do rio Loire, antes de visitarmos o Château d'Azay-le-Rideau, escondido entre muros, ao fundo da zona histórica da comuna. Este é mais um palácio fascinante da região, que transpira Renascimento, quer na construção, quer nos jardins. A escadaria central, com uma mistura de motivos góticos e renascentistas, e o grande sótão, obra de carpintaria admirável, são as jóias mais preciosas deste palácio, que flutua sobre o rio Indre.

O final do nosso dia foi dedicado a Chenonceau, o meu predileto entre todos os castelos da Loire. Apelidado Chef-d'Oeuvre de la Renaissance, Chenonceau foi habitado no séc. XVI pela preferida do rei Henri IIDiane de Poitiers, criadora dos jardins renascentistas que ainda hoje se podem visitar ao redor do palácio.
Após a morte do rei, no entanto, Catherine de Médicis, sua mulher, afastou Diane do palácio e decidiu habitá-lo com a sua família, fazendo-lhe várias alterações. Entre elas, a mais marcante foi a transformação da ponte que ligava o palácio à outra margem do rio Cher numa galeria de dois andares. A antiga ponte, mandada construir por Diane para poder passear-se pelos jardins da margem sul do rio, passou assim a ser parte integrante do palácio e a receber os grandes bailes dados por Catherine de Médicis.

Este esplêndido palácio é chamado Château des Dames, por ter sido habitado essencialmente por mulheres ao longo dos séculos, desde a famosa Diane de Poitiers até à Enfermeira Simone Menier, que, durante a I Guerra Mundial, transformou o castelo em hospital militar.
Chenonceau cativa mais do que qualquer outro castelo da Loire, pela originalidade, pela beleza, pelos criativos jardins e pela sua história tão rica.

O nosso último dia na Loire foi dedicado ao Château de Brissac, o único da região que é ainda residência oficial de uma família nobre, os duques de Brissac. Chamam-lhe, não por acaso, o gigante do vale de Loire: o palácio é o mais alto da região, com sete andares e 204 divisões. Diz-se, de Brissac, que é um castelo novo semi-construído dentro de um castelo velho semi-destruído, dado que a construção mantém as antigas torres medievais, nunca tendo chegado a ser concluído o seu projeto renascentista, que previa a demolição das torres e a extensão das galerias.
O que é verdadeiramente curioso, ao visitar o Château de Brissac, é a forma como história e vida familiar se entrecruzam harmoniosamente: entre os retratos centenários e as explicações da utilidade de cada uma das muitas divisões ao longo dos tempos, encontram-se fotografias de momentos marcantes da vida dos atuais duques de Brissac, assim como objetos pessoais, como é o caso do vestido de noiva da duquesa, que se encontra exposto na capela.
Brissac destacou-se, aos nossos olhos, não só pela sua dimensão magnífica, mas também pela excentricidade: desde uma sala de jantar com uma espécie de mezzanine para um piano, que deveria acompanhar todas as refeições; à sala de teatro privada, onde uma das duquesas dava espetáculos de ópera durante a Belle Époque; aos canais subterrâneos, que pretendiam evitar as cheias no inverno; aos jardins, onde se podem fazer caminhadas de vários quilómetros; ou ainda às caves de vinho, onde se produz ainda hoje o famoso vinho francês Château de Brissac.


De regresso a Paris, houve ainda tempo para rápidas visitas a Angers, cidade de charme, e Nantes, capital do Pays de la Loire.



Regressámos a casa absolutamente encantados com as riquezas desta região! Tenho uma grande amiga que diz que um dia fará a sua lua-de-mel no Pays de la Loire... e eu devo admitir que não me parece, de todo, uma má hipótese, para quem pretende fazê-lo na Europa!

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