segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Balanço

O primeiro aniversário da minha mudança para Paris chegou no dia 27 de julho, sem que eu me apercebesse. Para ser sincera, não me cruzou sequer o pensamento, nem me lembrei de assinalar a data.

Passou, a correr... como passou o ano.

Há pouco mais de um ano, pusemos mãos à obra e começámos a esvaziar o nosso T1 em Matosinhos, não só de móveis e objetos pessoais, mas sobretudo de recordações de anos de trabalho, de momentos inesquecíveis e de toda a nossa história. Lembro-me de passar uma última noite nessa [já pouco] nossa casa, mesmo não havendo lá dentro mais do que a cama onde me deitei, numa esperança absurda de poder ainda manter-me lá, na minha vida de sempre, sem mudanças nem desafios  quem precisa de desafios, afinal?! O conforto de um apartamento pertinho do mar deveria chegar para viver...

Teria chegado, talvez, mas quis o destino (ou outra força qualquer) que o nosso T1 ficasse vazio e que nós viéssemos enfiar as tralhas, a gata e um monte de novos momentos inesquecíveis num pequeno apartamento ao estilo parisiense.
Até hoje, não me arrependi; no entanto, confesso que houve momentos difíceis, de muitas dúvidas, algumas frustrações, demasiadas perguntas cuja resposta tardou em chegar e lágrimas q.b.. Mas este ano em Paris deu-me também muitas alegrias, abriu-me horizontes, trouxe-me a possibilidade de me reinventar e de explorar em mim capacidades que desconhecia, até aqui chegar.

Há pouco mais de um ano, no dia a seguir ao sexagésimo oitavo aniversário da minha mãe, entrei num avião rumo à minha nova vida em Paris, com os olhos vidrados de lágrimas e o coração mais apertado do que alguma vez tinha sentido. Um ano depois, por ironia do acaso, não foi em Paris que passámos o primeiro aniversário do início da nossa vida por cá, mas sim no Porto, com imensa família à nossa volta, no casamento de um primo. Ri, chorei de emoção, dei e recebi mimos daqueles que só se trocam com a família, saltei e dancei até de madrugada. Foi a melhor forma de assinalar a data que me tornou emigrante, ainda que não tenha sido mesmo nada planeada.

Nunca me imaginei como emigrante e tenho de admitir que, ainda hoje, detesto a palavra e tudo o que ela representa! Ao contrário de muitos dos meus amigos, eu nunca quis que conhecer o mundo implicasse longas ausências do meu país natal. A mim, bastavam-me as viagens, não importava se de curta ou longa duração, desde que tivesse na mão o bilhete de volta.
Não foi isto que desejei para mim, não o escondo; mas a vida encaminhou-me até aqui e eu lá lhe fui seguindo os passos, da melhor forma que me foi possível. Ao fim de um ano, a verdade é que os obstáculos se parecem cada vez menos com gigantes temerosos e há algo que me faz acreditar que, daqui para a frente, me vou tornar um ás em corrida de barreiras...

1 comentário:

  1. Parabéns priminha por este ano de batalha como cidadã portuguesa la fora. Parece que me identifiquei com as tuas palavras. As dificuldades, as duvidas, assim como as saudades fazem parte desta experiência. Parece que não podemos traçar todos os passos do nosso destino, as coisas nem sempre acontecem como planeamos, é bom ter sonhos como aquele de estar/ser o melhor que gostamos ser, no lugar que preferimos, com aqueles que mais amamos. Daqui a uns aninhos fazemos um balanço desta nossa navegação em mar bravio. Como dizia o nosso Pessoa tudo vale a pena quando a alma não é pequena! um grande beijinho.

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