segunda-feira, 23 de novembro de 2015

De cabeça erguida

Na sexta-feira a minha melhor amiga informou-me que tencionava anular a viagem que tinha agendada para Paris. O meu primeiro pensamento foi: "Mas porquê?"  foi também a minha resposta.

Não foi uma pergunta muito justa, admito. Chega a roçar a insensibilidade em relação aos acontecimentos atuais.

Bom, a verdade é que enquanto aparentemente o resto da Europa é intoxicada pela televisão, que passa desgraças atrás de desgraças e repete vezes sem conta vídeos dos dramas que se deram há uma semana, por aqui tenta-se seguir em frente.
Após três dias de luto intenso, em que se liam as lágrimas nos olhos das pessoas, por aqui a vida continuou. Teve de continuar. Ninguém esqueceu os ataques ou os rostos dos que perderam a vida e ninguém esqueceu essas criaturas que querem cravar-nos o corpo e a alma de medo. Mas a vida continuou.
Menos alegre do que antes? Sem dúvida! Vai ser preciso tempo para Paris curar as feridas; para a cidade das luzes voltar a sê-lo em todo o seu esplendor. Mas se não começarmos a tentar arrumar o pesadelo num canto da memória, o pesadelo acabará por tomar-nos o espírito.

Quando tantos jornalistas querem dar a impressão de que estamos de joelhos e que não vivemos como antes, é preciso dizer que os parisienses continuam de cabeça erguida. Mais cautelosos, com certeza, como o exige o estado de sítio em que estamos mergulhados. Mas de cabeça erguida.
É preciso dizer que a polícia e os militares estão por todo o lado, a cumprir lindamente o seu dever de proteção; que os horários dos transportes não se alteraram minimamente; que os trabalhadores cumprem a mesma rotina de sempre; que as crianças nas escolas brincam e riem alto como antes. A vida continuou, como em qualquer outro país livre e democrático.

O receio das pessoas que estão lá fora é compreensível e legítimo, mas eu tenho esperança que elas se sintam inspiradas pela forma como por aqui se enfrenta o medo.

E que voltem a Paris  agora mais do nunca!

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