segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O terrorismo não tem religião!

Saí do trabalho muito mais tarde do que era suposto. Fiquei no escritório à conversa com uma colega, até quase nos fecharem a porta do liceu. Iniciámos o regresso a casa juntas. Falávamos em propor aos respetivos cônjuges sair para jantar: era tarde e não apetecia cozinhar. Despedimo-nos com esses planos.

Mas não saímos. Somos como as outras pessoas: gostamos de aproveitar a sexta-feira à noite para ver os amigos, beber um copo e gozar o bom tempo, quando o temos. Também vamos a esplanadas, também nos passeamos pelas ruas da cidade, também assistimos a espetáculos; mas na sexta-feira [felizmente] estávamos cansados e acabámos por ficar em casa, tranquilamente, a ver um filme. 

O telemóvel tocou, com uma atualização do Figaro, como acontece sei lá quantas vezes ao dia. Consultei distraidamente a notícia e o meu sangue gelou: attentats à Paris.

Abandonámos o filme e procurámos compreender o que se passava. Na TF1, estranhamente, o jogo França-Alemanha continuava, sem sinais de pânico – "Talvez não tenha havido vítimas".
Mas dois minutos mais tarde o jogo terminou e as piores notícias começaram a chegar. O número de mortos aumentava às dezenas, em intervalos de poucos minutos. As imagens roçavam o irreal: a língua com a qual convivemos todos os dias na boca de pessoas que descreviam cenários de horror, as ruas que tantas vezes cruzámos banhadas de sangue, o Presidente que declarava estado de emergência, o encerramento das fronteiras e o início de uma guerra.

Os telefones cá de casa começaram a tocar e nós começámos a fazer tocar os dos nossos amigos e colegas. Nestas ocasiões, toda a gente espera que a tragédia não lhe tenha tocado a si.

Não nos tocou a nós, felizmente. A vida tem destes acasos, que nos fazem perguntar-nos se é a sorte que está do nosso lado, se estamos protegidos por algo superior, ou se o universo é feito de pura aritmética aleatória.

Não nos tocou a nós, mas atingiu centenas de famílias à nossa volta. Centenas de famílias vivem hoje momentos de desespero, porque meia dúzia de loucos decidiram que tinham o direito de vir perturbar a sua vida e a sua paz. Não se pode descrever o que se sente quando se vê algo tão bárbaro acontecer ao pé da porta. Não se pode descrever a impotência que se sente ao pensar que atos tão selvagens quanto os desta sexta-feira podem repetir-se e que a vida de alguém pode acabar assim, de uma hora para a outra, em nome de nada.
Sim, em nome de nada! Porque estes atos de tirania não são postos em prática em nome de um credo  são executados em nome de covardes que se escondem atrás de uma religião tão legítima e com valores tão pacíficos como qualquer outra, para justificar ações que não têm justificação possível! O terrorismo não tem justificação! O terrorismo não tem religião! O que esta gente [se assim se pode chamar] quer é precisamente fomentar ódios – contra os muçulmanos, contra os refugiados sírios, contra os imigrantes. Um povo com ódios internos é um povo fragilizado, é um alvo mais fácil.

Os franceses levantaram a cabeça e decidiram não se deixar levar por esta estratégia rudimentar. Eu pergunto-me se todos os povos fariam o mesmo, depois da informação que me foi passando pelos olhos nos últimos dias.

Nas primeiras horas, as redes sociais encheram-se de mensagens de apoio, fotografias cobertas pelas cores da bandeira francesa, dezenas de hashtags solidários.. até que chegou a estupidez. Por algum motivo, várias pessoas acharam que era hora de comparar os ataques em Paris com outros ataques terroristas e de mostrar como os danos em Paris não eram nada, comparados com outros. Talvez não sejam; certamente que não são.
Mas francamente? Não é uma competição; a sério que não! Ninguém pediu aos governos internacionais que iluminassem os edifícios dos seus países de azul, branco e vermelho; ninguém pediu que milhões de pessoas rezassem por Paris; ninguém pediu que a população mundial se emocionasse e sofresse com os habitantes desta cidade.
Aconteceu assim, simplesmente, porque o ser humano é capaz de atos horríveis, mas também é capaz dos melhores sentimentos. Num momento destes, eu escolho deixar de lado os pensamentos mesquinhos e olhar apenas para os bons sentimentos e para as mensagens de paz  aqui e em todo o mundo!

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