terça-feira, 19 de maio de 2015

Os casamentos e o Porto

O número de viagens ao Porto reduziu consideravelmente nos últimos meses.

Por vários motivos, a começar pelo preço exagerado que as companhias aéreas low cost atribuem aos seus voos, desde que compreenderam que o número de emigrantes portugueses aumenta de mês para mês. Além disso, acredite-se ou não, essas viagens regulares faziam-nos mais mal do que bem.
As viagens ao Porto eram a nossa pequena droga e tinham em nós mais ou menos o mesmo efeito que teria um vício. Eram elas que motivavam os nossos dias, que eram passados a contar quantos outros dias ainda faltavam para a próxima viagem. Chegada a tão esperada data, saíamos de casa animadíssimos, com a sensação de que íamos finalmente para casa, depois de várias semanas num lugar estranho, que não nos pertencia.
Aproveitávamos todas as curtas horas dos fins-se-semana no Porto ao máximo: queríamos ver todos os amigos, toda a família, todos os lugares que nos faziam falta... e depois chegava a hora de voltar, nós regressávamos a casa estourados e invariavelmente com a sensação de que não tínhamos passado o tempo suficiente na nossa terra. E lá recomeçava a contagem decrescente.

Numa tentativa de reabilitação, começámos a dosear as viagens, numa tentativa de sentirmos que de alguma forma pertencíamos aqui.

Ultimamente, são sobretudo os casamentos que nos levam de volta. São os amigos que vão tomando a decisão de começar a sua própria família que agora pautam o nosso calendário de viagens.
Este fim-de-semana foi a vez de uma amiga de longa data, do tempo da estupidez natural, que me acompanhou desde então: nos anos atribulados do Ensino Secundário, na ansiedade da espera das listas de acesso ao Ensino Superior e durante cinco longos anos de noitadas em jantares bem regados, em festas universitárias, em praxes e em todas as asneiras que fizeram de nós as pessoas mais ou menos equilibradas que hoje somos. Tenho guardados num cantinho especial do coração o companheirismo e a cumplicidade que nos unem desde o início do século.
Foi por ela, então, que regressámos ao Porto este fim-de-semana e foi com eles que vivemos um dia intenso, de emoções e de muita alegria, antes de voltarmos para casa, para a nossa vida.

Devo confessar que cheguei a sentir quase como uma traição qualquer sinal de que começava a criar raízes aqui. Mas depois aconteceu, mesmo que eu me esforçasse por manter-me "fiel" à minha terra. Houve um dia em que chegar a Paris foi, pela primeira vez, realmente chegar a casa.

Este fim-de-semana, ao ouvir esta música na pista de dança dos [agora] marido e mulher, dei por mim a sorrir e a compreender o porquê.



Sem comentários:

Enviar um comentário