Houve algo no relato deles que me fez apaixonar por Barcelona, mesmo sem nunca a ter percorrido. Naquele dia, senti que via a cidade através dos olhos deles e lembro-me de pensar que devia haver alguma magia que pudesse explicar tamanho entusiasmo.
Chegámos na Terça-feira à noite e na Quarta-feira de manhã eu mal podia conter a vontade de descobrir a terra que tinha esperado tanto tempo para conhecer!
Seguimos rumo em direção à Catedral, não sem passar pela igreja de Santa Maria del Mar. O Mercat St. Josep, ou La Boqueria, esperava-nos ao virar da próxima esquina e, inesperadamente, transportou-nos para as memórias que trouxemos dos mercados de comida de Singapura: a alegria das pessoas sentadas em frente a colossais pratos de marisco, os sumos naturais de todas as frutas imagináveis e até mesmo os frutos orientais, que nunca tínhamos encontrado antes à venda no nosso mundo ocidental.
Percorrendo Les Rambles, fomos encontrar ao fundo, no Portal de la Pau, o Monumento a Colom. Passeámos um pouco pela marina e depois dirigimo-nos ao bairro da Gràcia, para nos encontrarmos com um amigo que vive atualmente em Barcelona.
Subimos ao Montjuïc e sentámo-nos em frente ao Museu Nacional, a admirar a fabulosa vista da cidade. Depois fomos à descoberta da magia da montanha. Ao pé da Fundação Miró, depois de termos visto o Teatro Grego, apanhámos o teleférico, que nos levou até ao Castelo. As paisagens que se avistam durante a curta viagem são de cortar a respiração.
O castelo, erguido sobre a cidade, esperava-nos, na sua imponência, vaidoso da sua importância na história da região, ansioso por partilhar connosco todas as pequenas lendas que fazem dele um dos maiores símbolos da resistência barcelonesa.
Findo o par de horas que nos tomou a visita do castelo, iniciámos a descida, calmamente, parando para um almoço bastante tardio no Restaurante Mira Mar, um dos mais procurados, pela vista sobre a cidade que as suas varandas oferecem.
Ao fim de meia hora de caminhada, estávamos de volta a La Rambla, cansados, mas ainda não prontos para dar o dia por terminado. Passámos na Boqueria para um sumo natural, atravessamos a Plaça Reial e foi o Bairro Gótico que nos encerrou o dia, com as suas ruas cheias de riqueza arquitetónica.
O nosso penúltimo dia em Barcelona acordou-nos com uma surpresa algo desagradável. Com a manhã reservada para a visita da Sagrada Familia, percebemos, ao sentarmo-nos em frente ao computador para comprar os bilhetes, que Barcelona é uma cidade extremamente organizada – o que é bom sem dúvida... mas pode apanhar os visitantes desprevenidos. Foi o nosso caso. Antes de visitar Barcelona, é preciso saber que muitos dos monumentos utilizam um sistema horário, que limita o número de entradas por hora. O ideal seria termos comprado os bilhetes alguns dias antes, mas não estávamos bem informados. Assim sendo, vimo-nos na situação de só termos entrada disponível para o final da tarde.
Nada que nos pudesse estragar o dia. Demos a volta à Basílica, disparando contra todos os pormenores do exterior com a nossa máquina fotográfica, e dissemos-lhe "Até breve".
Com algum tempo disponível, pusemo-nos a caminho do monte de Tibidabo. Apanhámos o elétrico até ao Parc de la Font del Racó e aí esperámos pelo funicular do Tibidabo, que data de 1901. Foi ele que nos levou até à Plaça Tibidabo, onde encontrámos o célebre parque de atrações, criado no início do século XX – muitas das atrações estão em funcionamento desde essa altura, por incrível que possa parecer.
No centro da praça, ergue-se o Templo do Sagrado Coração de Jesus. Inicialmente, em 1886, era apenas uma pequena ermida, erguida em honra de São João Bosco. 60 anos depois do início da sua construção, inaugurava-se o templo que hoje se pode visitar, com uma estátua do Sagrado Coração no topo. A igreja é original, na sua construção: na verdade, é como se existissem dois templos sobrepostos, acedendo-se ao andar superior por uma escadaria que contorna o inferior.
Despedimo-nos de Barcelona com a visita do Parc Güell, onde todos os cantos transpiram Antoni Gaudí. Este mudou-se para lá, a fim de terminar o seu projeto, que previa inicialmente transformar o parque numa espécie de condomínio fechado, uma urbanização de luxo. O arquiteto não viveu, no entanto, para sequer completar a metade do empreendimento, pelo que o parque serve hoje de museu da obra de Gaudí, concentrando construções de algumas casas e jardins, bem ao seu estilo.
Barcelona foi tudo o que esperei que fosse e mais ainda: uma cidade antiga, onde não é possível caminhar-se sem sentir a autoridade da história, como li um dia.
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