quarta-feira, 6 de maio de 2015

Barcelona, finalmente!

Em 2014, o meu presente de Natal foi um bilhete de ida e volta a Barcelona. A vontade de visitar esta cidade surgiu há muitos anos, quando os meus tios a visitaram. Lembro-me de eles chegarem a casa dos meus pais com uma ânsia particular de partilhar o que tinham visto e de vermos todos juntos as fotografias das suas mini-férias, acompanhadas de pormenorizadas legendas, proferidas em tempo real.
Houve algo no relato deles que me fez apaixonar por Barcelona, mesmo sem nunca a ter percorrido. Naquele dia, senti que via a cidade através dos olhos deles e lembro-me de pensar que devia haver alguma magia que pudesse explicar tamanho entusiasmo.

Desde então, já tinha comprado viagem para visitar a capital catalã duas vezes e por duas vezes houve imprevistos que me impediram de apanhar o avião. Mas, desta vez, fomos mesmo.

Chegámos na Terça-feira à noite e na Quarta-feira de manhã eu mal podia conter a vontade de descobrir a terra que tinha esperado tanto tempo para conhecer!
Começámos o dia a deambular pelo Passeig de Gràcia, ao pé do nosso hotel, e não tardámos a encontrar La Pedrera, que reconheci imediatamente da tal viagem fictícia que tinha feito há muitos anos. Mais abaixo, a casa Batló, a tal que é ondulada por dentro e por fora, outra das grandes obras que o arquiteto mais famoso da Catalunha deixou como herança à sua cidade natal. Aprendemos este fim-de-semana que foi o próprio Gaudí que desenhou a mobília exclusivamente para esta casa, já que nenhuma outra poderia ser encaixada nas ondas que ele tinha criado.

Depois de regalarmos os olhos com estas pequenas pérolas da arquitetura catalã, continuámos o nosso passeio pelo Palácio da Música, pelo Arc de Triomf catalão, pelo Parc de la Ciutadella e perdemo-nos nas ruas estreitinhas da Cidade Velha, onde parámos para almoçar num pequeno restaurante típico, o La Llavor dels Orígens. Aí, regalámo-nos com algumas das especialidades locais, que curiosamente nos recordaram a boa comida portuguesa. E como é bom ter uma refeição que se aproxima dos sabores que são nossos! O mais marcante, o queijo fresco [fazem-me tanta falta os queijinhos frescos em Paris!] com mel. Que delícia!


Seguimos rumo em direção à Catedral, não sem passar pela igreja de Santa Maria del Mar. O Mercat St. Josep, ou La Boqueria, esperava-nos ao virar da próxima esquina e, inesperadamente, transportou-nos para as memórias que trouxemos dos mercados de comida de Singapura: a alegria das pessoas sentadas em frente a colossais pratos de marisco, os sumos naturais de todas as frutas imagináveis e até mesmo os frutos orientais, que nunca tínhamos encontrado antes à venda no nosso mundo ocidental.

Percorrendo Les Rambles, fomos encontrar ao fundo, no Portal de la Pau, o Monumento a Colom. Passeámos um pouco pela marina e depois dirigimo-nos ao bairro da Gràcia, para nos encontrarmos com um amigo que vive atualmente em Barcelona.
Sentámo-nos num bar do bairro a tomar um pequeno aperitivo e depois ele levou-nos ao La Gata Mala, um bar de tapas na Carrer de Rabassa, onde se cozinha lindamente! Melhor ainda, a simpatia dos funcionários, extremamente acolhedores. Quase nos sentimos em casa, mesmo estando tão longe.

A manhã seguinte levou-nos um pouco mais para Este. Começámos o dia no alto das arenas da Praça de Espanha, de onde tivemos uma vista privilegiada para vários pontos da cidade, como o Parc Joan Miró, o imponente Museu Nacional no Montjuïc e até o Tibidabo, bem ao longe.
Subimos ao Montjuïc e sentámo-nos em frente ao Museu Nacional, a admirar a fabulosa vista da cidade. Depois fomos à descoberta da magia da montanha. Ao pé da Fundação Miró, depois de termos visto o Teatro Grego, apanhámos o teleférico, que nos levou até ao Castelo. As paisagens que se avistam durante a curta viagem são de cortar a respiração.

O castelo, erguido sobre a cidade, esperava-nos, na sua imponência, vaidoso da sua importância na história da região, ansioso por partilhar connosco todas as pequenas lendas que fazem dele um dos maiores símbolos da resistência barcelonesa.

Findo o par de horas que nos tomou a visita do castelo, iniciámos a descida, calmamente, parando para um almoço bastante tardio no Restaurante Mira Mar, um dos mais procurados, pela vista sobre a cidade que as suas varandas oferecem.

Ao fim de meia hora de caminhada, estávamos de volta a La Rambla, cansados, mas ainda não prontos para dar o dia por terminado. Passámos na Boqueria para um sumo natural, atravessamos a Plaça Reial e foi o Bairro Gótico que nos encerrou o dia, com as suas ruas cheias de riqueza arquitetónica.

O nosso penúltimo dia em Barcelona acordou-nos com uma surpresa algo desagradável. Com a manhã reservada para a visita da Sagrada Familia, percebemos, ao sentarmo-nos em frente ao computador para comprar os bilhetes, que Barcelona é uma cidade extremamente organizada  o que é bom sem dúvida... mas pode apanhar os visitantes desprevenidos. Foi o nosso caso. Antes de visitar Barcelona, é preciso saber que muitos dos monumentos utilizam um sistema horário, que limita o número de entradas por hora. O ideal seria termos comprado os bilhetes alguns dias antes, mas não estávamos bem informados. Assim sendo, vimo-nos na situação de só termos entrada disponível para o final da tarde.
Nada que nos pudesse estragar o dia. Demos a volta à Basílica, disparando contra todos os pormenores do exterior com a nossa máquina fotográfica, e dissemos-lhe "Até breve".
Com algum tempo disponível, pusemo-nos a caminho do monte de Tibidabo. Apanhámos o elétrico até ao Parc de la Font del Racó e aí esperámos pelo funicular do Tibidabo, que data de 1901. Foi ele que nos levou até à Plaça Tibidabo, onde encontrámos o célebre parque de atrações, criado no início do século XX  muitas das atrações estão em funcionamento desde essa altura, por incrível que possa parecer.
No centro da praça, ergue-se o Templo do Sagrado Coração de Jesus. Inicialmente, em 1886, era apenas uma pequena ermida, erguida em honra de São João Bosco. 60 anos depois do início da sua construção, inaugurava-se o templo que hoje se pode visitar, com uma estátua do Sagrado Coração no topo. A igreja é original, na sua construção: na verdade, é como se existissem dois templos sobrepostos, acedendo-se ao andar superior por uma escadaria que contorna o inferior.

Foi um dia dedicado a templos da religião católica, na verdade, já que com o final de tarde se aproximou também a visita da Basílica da Sagrada Família, em construção desde 1882. Hoje, 133 anos depois, dizem que faltam "apenas" 11 para se dar por concluída aquela que é a maior obra de Antoni Gaudí, considerada como o melhor exemplo da arquitetura moderna catalã. A verdade é que começa a distinguir-se, efetivamente, o final da obra. O interior está terminado e o exterior deixa já adivinhar o que será daqui a uma década.
A visita da Sagrada Família apanhou-nos desprevenidos: não contávamos com a emoção que sentimos ao entrar. As paredes e colunas em pedra branca de Montjuïc trazem paz ao olhar e os vitrais prendem a visão, pela complexidade do seu trabalhado. Registámos algumas imagens, mas rapidamente compreendemos que não conseguiríamos captar a grandiosidade do lugar em simples fotografias; passámos então às panorâmicas e eu dei mesmo por mim a percorrer as alas com a máquina em modo filme, qual turista asiático.


Despedimo-nos de Barcelona com a visita do Parc Güell, onde todos os cantos transpiram Antoni Gaudí. Este mudou-se para lá, a fim de terminar o seu projeto, que previa inicialmente transformar o parque numa espécie de condomínio fechado, uma urbanização de luxo. O arquiteto não viveu, no entanto, para sequer completar a metade do empreendimento, pelo que o parque serve hoje de museu da obra de Gaudí, concentrando construções de algumas casas e jardins, bem ao seu estilo.

Barcelona foi tudo o que esperei que fosse e mais ainda: uma cidade antiga, onde não é possível caminhar-se sem sentir a autoridade da história, como li um dia.

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