segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Flop... ou não!


O meu marido fez 33 anos na semana passada. Como já vem sendo habitual entre nós, o meu presente para ele foi uma escapadinha romântica durante o fim-de-semana.

Empenhei-me imenso na procura de um local tranquilo, já que ele anda bastante stressado com a sobrecarga de trabalho que tem tido ultimamente. A minha ideia era encontrar uma "aldeia de charme", como chamam aqui às aldeias mais pitorescas do país, e irmos refugiar-nos do burburinho parisiense.

Nas minhas pesquisas, encontrei uma aldeia que achei deliciosa: Saint Suliac. Pareceu-me que ali poder-se-ia respirar paz e passar um fim-de-semana agradável, a passear por trilhos com vistas de cortar a respiração. Muito satisfeita com a minha escolha, reservei um hotel que me pareceu bastante simpático e não pensei mais no assunto.


Chegado o dia da partida, lá nos metemos dentro do carro e eu coloquei a morada do dito hotel no GPS. Apesar de eu ter a certeza que devíamos demorar cerca de quatro horas a chegar ao nosso destino, o GPS teimava em dizer-nos que estávamos a apenas duas horas e meia do hotel. Depois de uma análise mais aprofundada do mapa que o GPS nos apresentava, apercebi-me que a morada que eu tinha inserido ficava na Normandia e não na Bretanha, onde devia situar-se Saint Suliac. Achei que me tinha enganado a escrever a morada, lá a introduzi pela quinta ou sexta vez, e o resultado foi o mesmo: o nosso destino não era, afinal, Saint Suliac, mas Le Tréport. Não me perguntem o que aconteceu, porque não faço ideia como fui reservar um hotel numa aldeia de que nunca tinha ouvido falar antes...

O meu marido, que nunca se deixa desarmar por imprevistos, lá me disse que o importante era estarmos juntos e que não interessava onde; e eu, depois de fazer cerca de meia hora de viagem piursa com o meu engano, lá aceitei que não íamos conhecer Saint Suliac este fim-de-semana.

De telemóvel em punho, lá fui analisando o caminho e a pequena aldeia, tentando replanear o fim-de-semana. Apercebi-me rapidamente que Rouen ficava no nosso caminho e decidi que essa seria, então, a nossa primeira paragem.

Rouen é uma cidade medieval, conhecida como um importante ponto de comércio marítimo. Foi também a capital do ducado da Normandia durante quase cem anos. Mas Rouen é sobretudo conhecida como a cidade onde se aprisionou, julgou e queimou viva Joana D'Arc.

A nossa primeira visita passou pela Catedral de Rouen, que se impõe a qualquer turista que por ali passe, pela sua história, assim como pela sua sumptuosidade. Pensa-se que a construção deste edifício gótico terá sido iniciada na Alta Idade Média. Como é típico das catedrais francesas, a construção continuou durante vários séculos e só se deu por concluída em 1876. Caracterizada pela ausência de simetria da fachada, esta é uma das raras catedrais em França que conserva o seu palácio arquiepiscopal de origem.

A título de curiosidade, é interessante saber que este era o edifício mais alto do mundo na altura em que terminou de ser construído e que a Notre-Dame de Rouen é, ainda hoje, a terceira igreja mais alta do mundo. Após a Segunda Guerra Mundial, a Catedral foi alvo de grandes obras de recuperação, já que Rouen foi fortemente atingida pelos bombardeamentos de junho de 1944, que pretendiam desorientar os alemães antes do Desembarque dos Aliados. Foi nesta altura que a Torre Saint-Romain se incendiou.


Desde então, o restauro da Catedral tem sido constante. Nós tivemos a sorte de visitá-la nesta altura, em que os andaimes utilizados para a lavagem das pedras foram finalmente retirados da fachada ocidental, que é absolutamente deslumbrante!


Depois da visita à Catedral, passeamos pelas ruas da cidade, que surpreendem pela arquitetura variada: podemos encontrar casas das épocas e materiais variados. Aos meus olhos, destacaram-se sobretudo as casinhas com estrutura de enxaimel.


Na Place du Vieux Marché, encontramos a Igreja Sainte Jeanne d'Arc, com uma arquitetura bastante moderna e audaciosa. No seu interior, podem admirar-se os magníficos vitrais da antiga Igreja de Saint-Vincent, quase totalmente destruída nos bombardeamentos de 1944. Felizmente, o Serviço dos Monumentos Históricos francês tinha colocado estas verdadeiras obras de arte em local seguro, pouco depois de a guerra começar, em 1939.

Deixamos Rouen a meio da tarde, com destino ao nosso hotel em Le Tréport, uma estação balnear que se tornou popular durante o reinado de Louis-Philippe I. Foi ele quem lançou a moda dos banhos de mar nesta zona. A partir daí, a burguesia parisiense construiu em Le Tréport majestosas vivendas, que habitava durante as estações mais quentes. No entanto, grande parte destas vivendas foi destruída em 1944, altura em que a cidade foi, tal como Rouen, profundamente atingida pelos bombardeamentos que precederam o Desembarque dos Aliados.


A praia da pequena aldeia não é de areia, mas sim de pedra, e encontra-se rodeada por enormes falésias. A principal atração cultural da zona é a igreja de Saint-Jacques, imponentemente edificada no alto da falésia. O monumento, cuja primeira data de construção se desconhece, terá sido reconstruído entre os séculos XIV e XVI, sendo dotado de vários elementos arquitetónicos renascentistas. Para aceder à igreja a partir do porto do Tréport, é necessário subir 73 degraus. Eu diria que vale a pena, para poder admirar de perto este gigante pertencente ao património histórico nacional.

Depois de nos instalarmos no hotel, saímos para passear um pouco à beira-mar e encontrar um restaurante simpático para jantar. Depois uma curta pesquisa no Tripadvisor, decidimos tentar encontrar o "Le Homard Bleu", cujas críticas eram ótimas. Feliz ou infelizmente, muitas outras pessoas tinham tido a mesma ideia e não havia, por isso, lugar para nós. Lá continuamos a andar, ao longo do porto, até encontrarmos o Grain d'Sel, um pequeno restaurante cujos donos e empregados são extremamente acolhedores e onde pudemos deliciar-nos com entradas e pratos de peixe e mariscos de ótima qualidade!


Não se pode dizer que Le Tréport seja um cenário de sonho... mas, ao enganar-me na reserva do hotel, digamos que podia ter corrido bem pior!


Na manhã seguinte, tendo chegado à conclusão de que não havia muito mais a ver em Le Tréport, decidimos atravessar a fronteira e ir até Brugges, na Bélgica. Ambos conhecíamos já a cidade, mas nunca a tínhamos visitado juntos.


Brugges é, de longe, a mais mágica cidade europeia que visitei até hoje. Situada na Flandres, dizem que é a Veneza do Norte... pode dizer-se que sim, de certa forma; mas é também muito diferente.

Brugges parece saído de um conto de fadas, com a sua característica arquitetura gótica báltica. Os telhados extremamente pontiagudos assemelham-se a escadarias, fazendo com que cada edifício pareça um pequeno castelo. A coerência arquitetónica foi sempre uma preocupação central nesta cidade; a tal ponto que, quando em finais do século XIX foi necessário proceder à renovação das fachadas, introduziu-se um novo estilo neogótico, característico de Brugges - em francês, style néo-brugeois - para que houvesse uma harmonização com as construções existentes.

Esta cidade portuária teve grande importância nas trocas comerciais entre os países do Báltico e do Mediterrâneo ao longo dos séculos. Foi crescendo entre canais e construções, sendo possível aceder de barco ao centro da cidade.

Passeamos pelas ruas de Brugges, de mão dada, sem pressas, aproveitando o Domingo solarengo. Aproveitamos para fazer um passeio de barco com um dos cenários mais românticos que conheço, bebemos cerveja da boa, comemos verdadeiros chocolates belgas e depois voltamos para casa, com a sensação de que, afinal, um fim-de-semana em Saint-Suliac não teria sido melhor...

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