segunda-feira, 20 de abril de 2015

La Famille Bélier

Ultimamente, temos abandonado um pouco o cinema francês. Nem sempre me apetece ouvir a língua francesa, depois de dias inteiros a conviver com ela.
É verdade que me afeiçoei ao francês, mais do que esperava: até mudar-me para cá, a sonoridade da língua não me agradava particularmente e considerava que ela não tinha a mesma magia do inglês, que faz com que as expressões fiquem sempre bem, como diria o Carlos Tê. Esta perceção mudou, nos últimos dois anos. Agora que conheço bem as expressões idiomáticas e que domino o vocabulário, encontrei na língua francesa a beleza que descreviam alguns dos nossos grandes autores do século XIX.
No entanto, admito que às vezes me cansa. E, por andar cansada, temos privilegiado o cinema em língua inglesa.

Abrimos ontem uma exceção para "La Famille Bélier", um filme que conta a história de uma família de agricultores surdos, em que a única pessoa capaz de ouvir é a filha mais velha, de 16 anos. O filme tem como cenário a Normandia e tem paisagens lindíssimas, que, aliadas ao enredo emotivo, lhe dão os ingredientes para uma hora e meia de bom entretenimento.

Na verdade, este simpático filme está longe de ser uma obra-prima da sétima arte: torna-se demasiado óbvio, desde cedo, que a atriz principal não é uma verdadeira atriz (penso que terá sido escolhida por ter uma voz melodiosa) e as pequenas problemáticas que vão surgindo ao longo do filme são largadas a meio enredo, como fios soltos para os quais não se encontrou lugar.
No entanto, o filme deixa as emoções à flor da pele, sobretudo ao retratar os dramas diários das pessoas surdas: existem momentos absolutamente magníficos, em que o próprio filme se torna mudo, para que o espectador percecione os momentos da mesma forma que um surdo o faria. A música é também um dos pontos altos do filme: apesar de a jovem Louane Emera não me encher totalmente as medidas como cantora, as canções de Michel Sardou criam uma atmosfera verdadeiramente ternurenta.
Os dois atores que representam os pais, Karin Viard e François Damiens, são dignos de ovações, pela veracidade que conferem a cada cena em que participam. Perguntei-me várias vezes se seriam efetivamente surdos, o que penso que será um dos maiores elogios que poderão receber.

Fica um pequeno momento, que me deixou os olhos preenchidos de lágrimas.


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