quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Namorar em Praga

Não sei bem porquê, os presentes materiais nunca me satisfizeram inteiramente. Claro que gosto de receber um miminho aqui e ali, mas não é algo de que necessite ou que determine o meu grau de felicidade. Uma vez que somos dois assim cá em casa, quando toca a presentes, temos o hábito de optar por algo que nos fique na memória: uma escapadinha romântica, uma viagem ou um espetáculo que ambos queiramos muito ver.

Este Natal, o presente que ofereci ao meu marido foi uma viagem a Praga. Chegámos à cidade na quinta-feira à noite, ainda a horas de dar um pequeno passeio e de jantar confortavelmente num simpático restaurante central.

A sexta-feira acordou-nos com um pequeno-almoço delicioso servido no quarto, cortesia do Hotel Caruso. Depois saímos, mais tarde do que tínhamos planeado: começámos a nossa visita ao longo do rio, passando pela Rudolfinum, a Filarmónica de Praga, e seguindo até à Ponte da Cidade Velha, onde desfrutámos de uma vista privilegiada do castelo, já que a meteorologia nos brindou com um lindíssimo dia de sol. 

Na Praça Central da Cidade Velha, encontrámos o famoso relógio, que agracia os turistas com a bênção dos apóstolos à hora certa o acontecimento não é realmente nada de extraordinário, mas, a cada hora, a praça enche-se de pessoas com telemóveis e câmaras de filmar em punho, prontas a registar o momento. Verdade seja dita, nós também o fizemos, achando que encontraríamos algo mais espetacular; mas penso que sentimos a mesma desilusão que todas as outras pessoas que se encontravam na praça, a julgar pelo "Ooohhh!" coletivo que se ouviu, quando os apóstolos se recolheram.

Nada mais havendo para ver ali, seguimos o nosso caminho até à Câmara Municipal e à Orquestra Sinfónica de Praga, ambas situadas na Praça da República, antes de nos passearmos pela parte nova da cidade, até chegarmos à Praça de Václav, que percorremos até ao Museu Antropológico Checo.

Depois continuámos a nossa caminhada até ao rio, que seguimos de volta ao centro da cidade, visitando, pelo caminho, a Casa Dançante, uma obra notável de arquitetura, que parece, de facto, estar permanentemente a executar uma pirueta.

Ao fim do dia, sentíamo-nos realmente rendidos aos encantos de Praga; sobretudo à sua arquitetura imponente e uniformemente planeada, como se nenhum pequeno pormenor pudesse fugir à ordem estipulada.


A noite foi reservada a um jantar romântico de S. Valentim. Uma amiga checa do meu marido, que ele conheceu quando fez o seu ano de Erasmus na Lituânia, reservou-nos uma mesa no U Modré Kachnicky II, um restaurante com um ambiente vintage, cujo nome significa algo como "O Pato Azul".
Fomos extremamente bem recebidos, numa cena quase digna de um filme do James Bond. O empregado recebeu-nos com um: "OH, Mr. C.! We've been expecting you, Mr. C."; e ao passar pelo colega que estava no bar, advertiu-o que o Mr. C. tinha chegado, o que fez o segundo deslocar-se propositadamente para nos cumprimentar. Entreolhámo-nos, sem compreendermos, mas divertidos com a situação.

Enquanto nos guiava até ao segundo andar, o funcionário que nos recebeu ia dizendo aos colegas com quem se cruzava: "It's Mr. C." ou "Mr. C. is here!" e os outros iam sorrindo calorosamente e desejando um bom jantar. Ao entregar-nos ao colega que nos acompanhou o resto da noite, pousou a mão no ombro do meu marido, sussurrando com ar cúmplice: "We've prepared everything for you, Mr. C."
Agradecemos e rimo-nos da situação, enquanto seguíamos o outro funcionário, que nos encaminhou com um largo sorriso até à nossa mesa, num cantinho resguardado do segundo andar.

Esta receção, a decoração e o piano ao vivo trataram de criar o ambiente da noite de S. Valentim, uma das datas que este restaurante celebra com mais empenho, propondo para o jantar um menú especial, que nós aceitámos. Dos pratos constavam uma entrada de caviar rosa acompanhada de champanhe, uma salada de alecrim com pepino e truta, um corta-sabores de limão com físalis, um prato de pato (felizmente, não azul!) acompanhado de dumplings e, por fim, uma sobremesa de gelado de iogurte natural com frutos vermelhos. Tudo delicioso; incluindo o vinho checo, que descobri apenas nesta viagem e adorei!
Para terminar a noite, passeámos ao longo do rio, um pouco sem destino, apenas a aproveitar os ares românticos de Praga pelo S. Valentim.


O dia seguinte foi passado entre amigos: por coincidência, umas das minhas maiores amigas e o marido decidiram passar o S. Valentim na mesma cidade que nós. Marcámos encontro no sábado para um passeio matinal e alguma conversa, antes de os deixarmos para almoçarmos com a tal amiga do meu marido, com quem passámos a tarde toda à conversa, com tempo para ambos se atualizarem quanto às novidades um do outro.

Mais tarde, jantámos com a minha amiga na Praça Central e conversámos sobre histórias antigas, planos para o futuro e esperanças de um dia voltarmos a estar próximos e já não termos de sentir tanto a falta uma da outra.
Depois despedimo-nos e regressámos ao hotel, para uma noite de descanso antes do último dia em Praga, que reservámos para a visita da parte alta da cidade.

Saímos do hotel em direção ao castelo, passando pela Igreja de S. Nicolau de Malá Strana. Percorremos a Loretánská até à Loreta de Praga e seguimos até ao Mosteiro de Strahov e seus jardins, de onde tivemos uma vista fantástica sobre a cidade de Praga, o rio Vitrava e o próprio castelo, onde ainda tivemos tempo de entrar para fazer a visita mais curta, que incluiu a Catedral de S. Vitus, o Palácio Real, a Basílica de S. George, a Golden Lane e a Torre Daliborka.

Todo o complexo do castelo ocupa cerca de 70000m2, o que é, de facto, impressionante - é claro que se afigura bastante pobre, quando comparado a outros castelos europeus, sobretudo no seu interior; mas isso não faz com que a visita valha menos a pena.

Regressámos a casa com energias renovadas e apaixonados por Praga! Recomendamos vivamente um S. Valentim por lá!

Sem comentários:

Enviar um comentário