terça-feira, 29 de outubro de 2013

O final de uma etapa

Ontem terminei o curso de francês, que iniciei no início de Setembro. Era suposto tê-lo frequentado apenas um mês, mas... um marido persistente pode muito! Tenho de dar-lhe razão, de qualquer modo: é verdade que teria sido pena não aproveitar um pouco mais a qualidade do ensino e o convívio diário com a língua e com pessoas fantásticas.
Mas ontem chegou, enfim, o último dia. No final desta minha última sessão, a 'Guria de Porto Alegre' e a 'Multifacetada Russa' convidaram-me para um almoço de despedida destes últimos tempos em que desfrutámos de um convívio diário.

Escolhemos um pequeno restaurante italiano, de seu nome Salento, na Rue du Temple. Pedimos diferentes tipos de pasta e vinho para acompanhar, claro... afinal, celebrava-se o final de uma etapa e (esperemos!) o início de outra.
Conversámos durante horas, à mesa, sobre histórias do passado e do presente e planos para o futuro.
É curioso pensar que a vida dá imensas voltas, mas parece sempre acabar por levar-nos onde precisamos de estar. Se Portugal não tivesse entrado em crise; se eu não tivesse conhecido o meu marido; se o meu marido tivesse emprego no nosso país; se não tivéssemos sido forçados a tomar a decisão de vir para cá... estas pessoas nunca chegariam a existir na minha vida. E, no entanto, parece-me tão natural que tivéssemos de encontrar-nos um dia, a julgar pela forma como encaixamos!
Fizeram-se as despedidas e ficaram as promessas de encontros regulares, para não perdermos esta nossa (ainda) jovem tradição, de nos sentarmos num qualquer lugar de Paris, a conversar e a saborear as delícias escondidas desta cidade fantástica.

Deixei-as, um pouco melancólica, e resolvi caminhar pelas ruas de Paris. Ao fim de uma hora, acabei sentada em frente ao Musée d'Orsay, num dos banquinhos com vista para o Sena. E fui surpreendida por uma senhora morena, bem apresentada, que apanhou um anel (aparentemente) de ouro do chão e me perguntou se era meu. Disse-lhe que não e esperei que se afastasse, mas isso não aconteceu. De pé, ao meu lado, continuou a analisar o anel, a colocá-lo e a tirá-lo do dedo e a perguntar-me se não concordava que era bonito. Respondi-lhe que era bonito como qualquer anel, mas que não era meu e, como tal, não me interessava. No entanto, a senhora não arredava pé e eu comecei a achar toda a situação um pouco estranha.
Quando me preparava para ensaiar uma partida, duas raparigas que estavam sentadas por perto começaram a gritar que o anel era da senhora que me tinha abordado e a insultá-la de ladra. A dita senhora, até aí a simpatia em pessoa, transformou-se: aos gritos, lançou pragas às duas raparigas, num francês misturado com uma língua estrangeira, que supus ser romeno.
Agradeci às duas raparigas, que pareciam divertidas por terem irritado a criminosa e orgulhosas por terem conseguido salvar a situação, e voltei para casa.
Depois de procurar informação sobre o assunto, fiquei a saber que este golpe (que eu desconhecia totalmente) funciona um pouco como o das assinaturas que os ciganos romenos pedem na rua e que é bastante mais conhecido: a partir do momento em que se pegue no anel, eles exigem dinheiro. Se a vítima não se entusiasmar e não chegar a pegar no anel, eles vão propondo que a pessoa em questão lhes dê metade de um valor estimado do objeto encontrado e que fique com ele, para que se divida justamente a jóia, que é, obviamente, falsa.

Fica o alerta...

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