terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Passeata pós-natalícia

Nestes últimos dias, andámos a passear de carro pela Europa. Saímos de Paris no dia 26, atravessámos a pontinha Sul da Bélgica e fomos parar ao Luxemburgo.

Na verdade, o plano inicial era ir até Munique; mas as ameaças de intempéries fizeram-nos concluir que talvez não fosse boa ideia conduzir durante tantas horas. Depois de refletirmos um pouco sobre as hipóteses que nos restavam, acabámos por decidir pôr o pionés nesse pontinho pequenino do mapa ocidental europeu.
Não posso dizer que esperássemos muito do Luxemburgo: saímos de Paris com o principal objetivo de descansar a mente e de passarmos algum tempo a dois, pelo que a escolha do lugar a visitar se tornou secundária. Mas esse pequeno país perdido no mapa surpreendeu-nos.

Apesar de termos chegado já ao escurecer e de Luxemburgo se encontrar deserta, por ser feriado, pudemos apreciar a vista noturna da cidade, iluminada pelas decorações natalícias, e percebemos rapidamente que o dia seguinte nos reservaria paisagens lindíssimas. 

Compreendemos também, sem demora, que havia um pouco de nós neste destino.  Sabíamos que existe uma percentagem considerável de imigrantes portugueses no Luxemburgo, mas foi com alguma surpresa que nos fomos apercebendo, desde a nossa chegada, que se pode ouvir falar português a cada 10 passos e que a probabilidade de sermos atendidos por um português num estabelecimento público é bastante elevada, o que nos fez ter a estranha sensação de estarmos em casa, numa terra que nunca tínhamos pisado antes.

O dia 27 amanheceu chuvoso, no Luxemburgo, como um pouco por toda a Europa. Mas isso não nos deteve: saímos cedo, metemo-nos num autocarro local e fomos visitar o vale da cidade velha, atravessada pelo rio Alzette, da qual restam muralhas imponentes e alguns edifícios com muitos séculos de história.
Depois subimos a pé até à cidade nova, onde almoçámos e continuámos a nossa visita às praças principais e ao palácio real.
Já um pouco cansados da chuva (mas não vencidos!), percorremos a parte Norte da cidade e atravessámos a Pont Grande-Duchesse Charlotte, para apreciarmos de perto o Musée d'Art Moderne Grand-Duc Jean e a Philarmonie Luxembourg, antes de regressarmos ao nosso hotel.

No dia seguinte, deixámos a cidade de Luxemburgo, rumo a Vianden, uma pequena comuna que faz fronteira com a Alemanha e onde se situa um dos castelos mais enigmáticos do Luxemburgo, cuja construção se iniciou no século V e se deu por concluída, conforme se apresenta hoje, apenas no século XVII, após inúmeras transformações. Em 1977 foram iniciados trabalhos  de restauro e, desde então, o castelo tem servido aos grão-duques luxemburgueses como sala de visitas, onde têm sido recebidas dezenas de personalidades mundiais, ao longo dos anos.
O castelo fica a uma altura de 310m, erguido no meio de um vale. Quando chegámos ao local, o nevoeiro tinha invadido todo o vale, conferindo um certo mistério ao castelo que estávamos prestes a descobrir. A visita deslumbrou-nos, tanto pela beleza do edifício, quanto pela sua história milenar.


Deixámos Vianden e rumámos à outra ponta do Luxemburgo, quase na fronteira com a Bélgica, para visitar a velha aldeia medieval de Esch-sur-sûre, que, na verdade, é pouco mais do que ruínas, hoje em dia.
Nessa noite, dormimos estrategicamente em Pommerloch, não porque tivéssemos algum interesse em visitá-la, mas porque no dia seguinte nos esperava uma viagem até Amesterdão e esta pequena vila ficava no nosso caminho. Foi com grande espanto, aliás, que verificámos que a minúscula Pommerloch (que se resume a pouco mais do que uma avenida) tem seis bombas de gasolina e um centro comercial gigantesco, dos quais se servem igualmente belgas e luxemburgueses, sendo conhecida exatamente por estes factos. Vai-se lá perceber...

No dia seguinte, Amesterdão esperava-nos; e, com ela, uma das minhas pessoas favoritas em todo o mundo. A Holanda tem aparecido repetidamente nas nossas rotas de viagens, no último ano, porque ela vive lá.
Conhecemo-nos na faculdade, pouco antes de terminarmos o nosso percurso por lá. Quando nos cruzámos, não imaginei que ela se fosse tornar em tudo o que é para mim! Não imaginei que fosse descobrir nela lições de vida sobre a bondade, o perdão, a simplicidade e a coragem. Não imaginei que um dia a sua partida me faria sentir como se tivesse partido um pedacinho de mim. Mas há pessoas que vêm assim: instalam-se no nosso coração e passam a fazer parte de nós, mesmo a milhares de quilómetros de distância. Por algum motivo, a vida acabou por reaproximar-nos geograficamente, o que nos permite vermo-nos com alguma frequência.

Chegámos a Amesterdão animados por voltar a esta cidade. Tenho uma amiga que diz que Amesterdão é uma capital em jeito de cidade de interior  e é, realmente, uma boa descrição! A cidade parece combinar, de facto, o movimento de uma cidade grande com a descontração de uma pequena vila, o que lhe dá bastante encanto, aos meus olhos, e me faz adorar perder-me pelas ruas e pelos canais, sem olhar para o mapa. 

Ela esperava-nos, com um sorriso, ao cimo das escadas de um prédio típico, no sudoeste da cidade, num apartamento com vista para um dos muitos canais.
Houve tempo para matar saudades dela, das batatas fritas com maionaise do Manneken Pis e da melhor tarte de maçã de todos os tempos do Winkel 43; houve tempo para visitar o mercado de Natal; houve tempo, sobretudo, para conversarmos e partilharmos tudo o que a distância nos impede de partilhar regularmente.

Chegada a hora da partida, senti como se aquele pedacinho de mim tivesse acabado de restabelecer-se, depois de uma privação prolongada de algo que lhe é essencial.

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